Um aspecto prioritário à terapia, ao meu ver, é ser um convite a um olhar radicalmente despatologizante do que quer que esteja sendo vivido.
A cultura que patologiza os diferentes aspectos de nossa condição humana, oriunda de perspectivas histórico-filosóficas normativas - olhar presente em grande parte da psicologia e abordagens psicoterápicas - faz necessariamente do lugar onde me situo existencialmente condição deficitária, com isso me rouba a possibilidade de perceber aquilo que vivo como expressão de sentido, ponto de contato entre eu e a vida na descoberta de minhas próprias possibilidades, descobrindo a vida, desvendando a natureza da experiência que é o viver.
O que quer que eu me encontre vivendo, me situa em minha vida, não me retira dela.
Basta que alguém permita-se situar no lugar onde existencialmente de fato se encontre para que seja restituída sua condição de ser, essencialmente criativa e sensível, abrindo-se necessariamente com isso espaço para a transformação.
Imagem: Carola Vahldiek
Texto: Eduardo Beznos
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